quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Ponto de mutação

De repente, tudo me encheu. Liguei para o P. e disse que não queria mais vê-lo. Às vezes eu tenho raiva de como os homens, em geral, demoram a amadurecer. De repente, percebi que isso que temos é nada. E eu não quero continuar tendo nada. Resolvi deixar pra lá. Não, não brigamos nem nada. Só fui sincera com ele, disse que não queria mais. Simples assim, como as coisas devem ser. Uma pequena angústia e só, logo eu estava feliz de novo.

Muito mais angustiante foi isto: no fim de semana passado, morreu uma amiga de infância. Um amigo em comum me ligou. Eu não queria ir ao enterro. Fiquei muito mal e não gosto que me vejam frágil. Foi como se boa parte da minha infância tivesse ido com ela, não sei explicar. Não ligo para convenções sociais, mas refleti um pouco e achei melhor ir. Ela me considerava muito, a família dela me considera muito (mesmo eu não sendo exatamente um exemplo de pessoa). Porra de leucemia.

Talvez, inconscientemente, ela tenha sido o meu primeiro amor. Às vezes penso que a minha atração por mulheres foi despertada por ela. Entre vários tipos de brincadeira, lembro que gostava de penteá-la. Ela era filha única e tinha um quarto lindo, todo rosa, com uma mini-penteadeira perto da cama; eu gostava quando ela se sentava diante do espelho e me olhava através dele, buscando o meu olhar, a minha expressão, e eu começava a penteá-la. Cabelos longos, claríssimos. Era prazerosa a sensação quando ela fechava os olhos e demonstrava prazer com o carinho que estava recebendo. Não era prazer sexual, era outra coisa que até hoje não sei explicar. Em duas ou três oportunidades, tomamos banho juntas. Do meu desejo de tocá-la sob a água ela nunca soube. Estudamos juntas algumas séries no colégio e éramos vizinhas. Durante a faculdade, continuamos nos falando, mas nossas vidinhas já eram outras e perdemos um pouco o contato. Mesmo tendo se tornado uma pessoa completamente diferente de mim e do que éramos quando crianças, eu tinha um carinho imenso por ela.

A sensação de que a vida é curta e que é preciso aproveitar tudo ao máximo foi inevitável.

Saudade.


Um comentário:

Anônimo disse...

Saindo com "O" P., é? Deste teu lado, eu não sabia. Também, fiquei muito tempo sem notícias suas.

Beijos,

R.